domingo, 17 de outubro de 2010
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20:16
A Semana de moda de Nova York, que abriu as semanas internacionais de Moda, acabou gerando polêmicas não só pelas coleções apresentadas, mas sim por uma coleção que o público nem sequer chegou a conhecer.
Quando eu li a notícia sobre o desfile do Tom Ford fiquei me perguntando se no meio daquela estratégia de marketing toda realmente havia algum sentido de valorização da peça pelo seu lado artístico, conceitual e não apenas mercadológico. E esse post é exatamente para tentar entender se a proteção aqui é do conceito ou do dinheiro...
Tom Ford outono-inverno 2010/2011
Para quem não acompanhou, Tom Ford resolveu apresentar sua coleção num desfile super fechado, apenas para 100 pessoas que incluíam amigos, clientes e pouquíssima imprensa. Ninguém podia registrar o desfile e à pedido do estilista nem comentar sobre sua coleção. Tudo no mais completo segredo, de forma que o público só viesse a conhecer a coleção toda quando ela chegasse lá pelo final do ano às araras. A explicação de Tom Ford para esse desfile guardado a sete chaves traz à tona uma questão bem mais complexa do que à primeira vista pode parecer. Tirando o lado da publicidade que isso gerou para sua nova coleção, – as estratégias de marketing do estilista são, no mínimo, diferentes do restante – o que mais se destaca aqui é a noção de democratização que vem à baila com essa discussão.
Em declaração dada à imprensa, a grande preocupação que o estilista tem é que em tempos de internet à todo vapor e tudo acontecendo na base do “aqui e agora”, as marcas perdem e muito da sua produção devido as cópias que saem na frente. É aquela história de você ver um desfile pela internet e logo depois encontrar uma peça super parecidinha vendendo numa loja perto de casa. Enquanto as reais coleções demoram meses pra chegar nas araras, as cópias e todo o conceito da coleção já estão à todo vapor na rua, e quando finalmente chegam nas lojas não apenas perdem seu magnetismo de novidade como ainda chegam com preços bem abaixo do esperado. Em tempos de democratização de moda, ou pelo menos um primeiro passo em direção a isso, a maioria das pessoas não tem tempo – e muito menos dinheiro – para esperar pela coleção verdadeira.
Fotos do casting e do desfile que vazaram na internet
(Créditos FFW)
Acho impossível voltarmos aos tempos em que desfiles eram sinônimo de uma coisa secreta, assistidos por uma pequena elite. Tempos em que as peças eram apresentadas uma a uma na passarela, com descrição de cada roupa que fosse apresentada – o que aliás também rolou no desfile de Tom Ford. O processo vem acontecendo ao contrário, na verdade. Todo mundo pôde conferir o desfile de Marc Jacobs ao vivo no próprio site do estilista, assim como Prada também foi transmitida pelo site da revista Love. E não foram só eles, era só procurar que se não ao vivo, algumas horas depois os vídeos já pipocavam na internet. Tudo rápido, como a própria Moda.
Então fica no ar a questão: ainda dá pra querer nadar contra a corrente? Até porque esse processo de democratização vem caminhando há muito, muito tempo. Desde quando a alta costura se fez presente e era copiado pelo público – fosse com costureiras ou com a produção em massa – esse processo de baratização e rapidez existe. Óbvio que de lá pra cá o tempo desse processo se tornou minúsculo, mas o espaço continua a existir para ambos os lados. Tanto para quem opta pelo mais barato quanto para quem espera até ter a peça desejada na loja. E até porque, e acho isso fundamental, a alta costura tem um processo completamente diferente do fast fashion. São públicos diferentes.
Aquela velha máxima de que as coisas tem o preço que tem porque há quem pague por elas pode até ser clichê, mas nesse caso acerta em cheio na questão. E não que isso seja ruim, até porque a alta costura continua a existir graças a isso. Porque eu sou super utópica na questão cultural e conceitual que a alta costura traz, mas é óbvio que não dá pra esquecer da vendagem disso. No entanto, enquanto o fast fashion preza pelo lucro rápido e produção em série, a alta costura traz um conceito da peça única, super valorizada. O processo delas é diferente desde sua fabricação até sua venda, então realmente é preciso temer essa democratização? E mais, será que ainda tem gente que pensa que a Moda – como se ela fosse algo aprisionável – é algo que deve se restringir apenas para um grupo seleto?
Ainda bem que isso é uma exceção à regra, e ainda bem que, pelo menos por enquanto, a Moda continua a caminhar para a frente.
Marcadores: Moda
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