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sábado, 30 de outubro de 2010
posted at 22:19

Uma das perguntas sobre Moda que mais instigam e mais geram controvérsia e burburinho é a própria definição do que vem a ser Moda. Inúmeras definições, conceitos, ‘achismos’ são apontados por aí e acho que defini-la é algo não apenas complicado, mas também restrito demais. Até pode haver uma definição, mas acho que ainda não descobri uma que me satisfaça completamente, uma que eu escute e pense “Ah, realmente, isso é Moda para mim”. Até porque – e acho que isso é uma das coisas que tornam sua definição ainda mais difícil – a Moda se torna um conceito muito subjetivo, muito particular.

Pra muita gente Moda pode apenas ser roupa, pra mim vai muito, muito além disso.

Talvez esse seja um dos fatos que me façam gostar tanto de desfiles conceituais. Acho fantástico quando você assiste a um desfile e uma coleção te é apresentada não apenas como algo para você digerir sentado na sua confortável cadeira. É algo para te fazer pensar,  algo que tem uma história. É algo que se expressa na roupa, nos acessórios, nas próprias modelos, no cenário, na passarela. Algo que vai além dos olhos. 

Mas o mais bonito disso tudo é quando você consegue captar esse sentido, quando você se dá conta que aquilo na sua frente não é uma roupa que sairá dali para as araras das lojas. Aquilo não vai ser usado pela nova it-girl do momento. Aquilo é uma idéia, é uma expressão, é uma forma de arte – digo mais uma vez que conceito de Moda é subjetivo e particular e por isso falo em moda como arte, já que acredito nisso. 

 Acho incrível, de verdade.

 Então, quando comecei a me interessar mais pelo assunto, quando descobri esse universo que pode ser tão paradoxal, mas é lindo de se ver, fazer e estudar, achei em Alexander McQueen  uma das figuras mais belas e geniais. 

Quem podia duvidar da força desse estilista? A passarela parecia se transformar: não era apenas um desfile, era um show, um momento único, uma coisa que te deixava perplexa. McQueen era genial em suas criações, mas acima de tudo entendia Moda de uma maneira brilhante. Sua visão de “isso é Moda” era traduzida numa coisa que chegava a ser assustadora. Belamente assustadora.

  Separei três desfiles do McQueen que, além da repercussão e do alvoroço causado na época, tenho um carinho especial por traduzirem essa aura tão bonita que a Moda conceitual tem. E pra quem acha que Moda conceitual não combina com o belo, Alexander McQueen dá um banho de alfaiataria, qualidade e elegância.

Primavera-verão 1999

As roupas são como uma tela em branco esperando nossa criatividade e bom uso.
E então, vimos os robôs pintores de McQueen...






Primavera-verão 2005

Sim, McQueen trouxe extrema alfaiataria em cortes retos e blazers sequinhos que aos poucos foram se transformando numa imagem extremamente feminina. Tules, babados e plissados brincaram não só nas sobreposições como também nos comprimentos apresentados. E, finalmente, quando se achava que o desfile iria se encerrar com a imagem de uma mulher forte, de rabo da cavalo e uma roupa que lembrava uma armadura, uma cena linda aconteceu: as modelos viraram peças de xadrez e transformaram a passarela numa partida.




Primavera-verão 2010


O que eram aquelas mulheres? O que fizemos com a Terra e nosso meio ambiente?

Foram perguntas assim que levaram às passarelas de McCqueen mulheres metamorfozeadas.
A inspiração veio de "A Origem das Espécies" de Charles Darwin e a coleção desceu ao fundo do mar para mostrar as transfomações que nosso espécie tanto sofreu no futuro trágico do estilista.
Mudanças que vinham na pele com roupas que lembravam escamas e traziam camadas de proteção. Mas não eram simples roupas, eram grafismo variados, impecáveis, que ora apareciam em vestidos extremamente colados ao corpo, ora apareciam em conjuntos. Cintura altamente marcada, abrindo uma saia volumosa que quase lembrava um New Look futurista, aliado a ombros volumosos que causavam uma certa rigidez na silhueta. E não era só a roupa que mostrava esse futuro tenebroso, mas também víamos nas maquiagens e nos cabelos as adaptações sofridas.  E peça chave da coleção foram os sapatos, altíssimos e de um formato tão estranho e “pesado” quanto a própria idéia apresentada.






Abaixo, outras tantas coleções que me encantaram.









Falo com paixão sobre desfiles conceituais, pois acho que, ironicamente, eles servem pra colocar nossos pés no chão. Em tempos de glamour exacerbado, de fast-fashion crescendo de maneira absurda e de consumismo enchendo os olhos, um desfile conceitual mostra um lado da Moda que quase sempre é esquecido: o valor, não material, mas sim inspirador de uma peça.

  Créditos das imagens: Tudo sobre Moda e FFW.

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