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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
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Sexta-feira, prenúncio de final de semana e esta que vos escreve pode finalmente gastar seu tempo com coisas triviais – e ai-meu-deus-que-falta-faz – como passear por blogs alheios e se divertir com imagens e vídeos legais. Tudo isso porque finalmente as férias chegaram, mesmo com um projeto de pesquisa e uma mudança pra casa nova em vista, mas de qualquer forma chegaram. Minha passagem por Sâo Paulo, o trabalho na Luminosidade e o São Paulo Fashion Week passaram tão rápido e tão devagar quanto esse parodoxo pode parecer. Mas, independente de tempo, acho que esse descanso pós semana de moda vai ser essencial pra que eu faça um balanço de inúmeras coisas que aprendi, profissional e pessoalmente, nesses dois meses que estive na capital paulista.

Participar, literalmente, de uma semana de moda foi sem dúvida uma experiência incrível já pelo fato de que foi meu primeiro contato real com moda. Ok, não que livros, estudos, pesquisas e blogs não sejam, mas participar de uma semana de moda me deu uma amplitude maior – e uma visão maior – de coisas que sentada na poltrona de casa eu não imaginava. Ou até imaginava, mas não estava lá para ver ao vivo e a cores.

Comecemos pelo fato de que ver um desfile pelo vídeo e um desfile pessoalmente são experiências bem diferentes e, pra quem nunca havia visto um de pertinho (oh yeah, essa sou eu), dar de cara com uma profusão de desfiles de estilistas que admiro e que contribuem pra construirmos nossa moda brasileira é meio assustador. Mais assustador ainda é acompanhar tudo isso numa mesma semana, num corre corre louco que parece não ter mais fim. Soma-se a isso o fato de participar do evento por ‘trás’ dele, estando lá nos ensaios, nos desfile, na organização, enfim, meio que no passo a passo da semana de moda. Então, se assistir o desfile é bom, participar e poder acompanhar tudo por dentro – vendo o trabalho na sala de imprensa, vendo a organização e preparação de cada desfile, vendo a construção e as soluções que tem que ser encontradas pra problemas que aparecem ali na hora - é uma baita carga de informação.

Falar do que mais gostei (ou não) desse São Paulo Fashion Week fica para um próximo post, mas por enquanto, no momento em que ainda estou experimentando a sensação de ficar largada na frente do computador sem maiores preocupações, minhas considerações serão mais sobre a visão e algumas pequenas conclusões que uma primeira (e avante!) semana de moda traz.




How can I start?

As pessoas no Sâo Paulo Fashion Week – leia-se as pessoas que passam pelo evento – são um capítulo à parte. Chega a ser desconcertante certas coisas que você presencia, certos egos inchados, certos exibicionismos tão, tão surreais. É óbvio que uma boa parte das pessoas que estão ali, estão ali pelo trabalho, pela produção do evento, pelo seu papel profissional e, consequentemente (apesar de isso nem sempre ser verdade) pela consciência do que o SPFW realmente representa. No lado oposto, tem aqueles que literalmente estão lá pra sair na foto. Ou, se não, pra ver gente famosa. Isso é tão constante nos corredores e fica tão evidente nas loucuras e bizarrices que você vê pelos corredores da Bienal que chega a ser cansativo. 

Pode parecer muito nheco nheco, mas é meio triste ver tanta luta pra aparecer na foto da revista, tanta tietagem por gente que a pessoa mal sabe quem é. Vamos abrir uma parênteses! Não sou avessa a tietagem – confesso que fui falar com Costanza Pascolato com o olho igual do gato do Shrek - mas acho bacana quando a gente sente e demonstra essa admiração por questões profissionais, por uma qualidade especial da pessoa, por um plus que aquela pessoa demonstrou naquilo que ela faz. Mas, incrivelmente, você vê gente correndo atrás de famoso sem nem saber quem ele é! No desfile da Colcci, que teve o maior número de celebrities na passarela , o pessoal  aplaudiu loucamente a Gisele e a Alessandra Ambrósio – como já era de se esperar – e ficou na maior ansiedade pela entrada do Ashton Kutcher. Qual não foi minha surpresa quando lá pelas tantas do desfile uma galera atrás de mim começou a bater palma e ir a loucura com a entrada de um dos modelos na passarela. O fato é que eles acharam que o modelo era o ator americano e já saíram gritando, ou seja, eles mal sabiam quem era Ashton Kutcher! O exemplo foi só para ilustrar, mas essa atitude foi tão corriqueira nos seis dias de evento que me deu um cansaço absurdo, uma decepção latente de que as pessoas ainda acham que tudo tem que virar um show, uma corrida pra ver quem aparece primeiro com a moçinha-da-novela na foto ou ainda quem sai na revista com ‘look de it-girl’. Resumindo? Preguiça infinita dessas pessoas. E uma salva de palmas pra quem trabalha incansavelmente pra continuar a fazer do evento um evento sério – ainda bem – e pra mostrar que tem gente que saber ser profissional.


É uma correria danada pra tudo funcionar do jeito e na hora que deveria funcionar. Tudo bem, os desfiles quase sempre atrasam, mas há um ensaio louco antes da apresentação pra que tudo funcione de forma integrada. Hora exata que a trilha sonora entra, hora exata que a iluminação tem que começar – com gradiente de luz certo, claro. As modelos quase sempre ensaiam os desfiles antes e isso pode se repetir muitas e muitas vezes. Não entrou na hora certa? Vai de novo! Não tá no ritmo certo? Vai de novo! E isso varia de desfile pra desfile porque tudo tem que sintonizar com a trilha, com a duração e com o efeito que a coleção vai passar. Além disso, é bacana ver a construção de cenário que algumas marcas fazem. Quando assistimos o desfile já vemos o cenário todo prontinho, a passarela já toda arrumada – não são todos que tem cenário e passarela – e às vezes não temos noção do tempo e da dedicação que aquilo necessitou. 

Alguns desfiles, que tinham cenários mais elaborados - como o do Ronaldo Fraga – só tinham a sua apresentação na sala aquele dia, porque levava muito tempo pra montar/desmontar tudo. Outra coisa bacana de se notar e parte mais do que essencial são as modelos. Mais especificamente a cumplicidade que as modelos têm entre si. Tá, como em qualquer outro lugar de trabalho é normal que laços se formem, mas no caso específico dessas meninas – que na grande maioria dos casos são muito novinhas e já estão longe de casa, tendo suas vidas e batalhando desde cedo pelos seus sonhos –  os perrengues, os problemas, as viagens, a vida incerta é dividida. Bacana mesmo foi ver o ensaio do desfile Do Estilista (Marcelo Sommer) já que ele chamou suas amigas da década de 90 e tudo parecia um encontro de comadres. Era engraçado ver aquelas modelos veteranas batendo fotos, dando beijinhos, abraços, matando a saudade das amigas do tempo de passarela. Rolava uma amizade verdadeira no ar, dava pra sentir um cheirinho de cumplicidade.
Mais do que isso, os desfiles são a parte central de todo o SPFW. O que vai virar a pauta principal no dia seguinte, o que é a essência de toda a organização do evento, então não dá pra deixar de lado e fazer de qualquer jeito. O que você pronto na passarela depois , tendo gostado ou não, teve muito mais trabalho pra chegar até ali do que possa imaginar.


Reclamações não faltaram. Nessa edição a presença da imprensa nos desfiles foi mais exclusiva e taxativa: só entrava quem tinha convite e ponto. Entre gritos e arranhões, as coberturas saíram. De vários modos.

Pra mim foi uma coisa meio louca (e linda) ver gente tão boa lado a lado: Erika Palomino, Gloria Kalil, Lilian Pacce, Costanza Pascolato (não canso de citá-la), a turma do FFW, as meninas da Oficina de Estilo, enfim, todo um pessoal incrível e profissional. E pisar na sala de imprensa? Gente descarregando foto, aprontando texto que tinha que subir custe o que custar, gente acompanhando o telão com as últimas notícias da Bienal, gente reunida na tv central pra ver o desfile que rolava no momento... foi uma coisa meio louca. Pra mim foi meio emocionante (sou sentimental mesmo, tá), meio momento friozinho na barriga ao entrar naquele lugar e ver aquele pessoal. O pessoal responsável por você conseguir acompanhar tudo aí da sua casa.


É uma semana de moda que, pra muita gente, ganha status de festa aqui no Brasil – mas não vou me alongar mais no quesito pessoas enfadonhas. Tem mistura de egos, mistura de estilos, mistura de profissionalismo e muita correria. Tem famoso que aparece pra dar pinta, tem estilista que chora quando vê a coleção pronta, tem desfile que faz você ficar com os olhos marejados. Tem uma mistura de conceitualxcomercial por onde quer que você olhe. É uma forma de reunirmos grandes nomes da nossa moda num mesmo lugar e mostrarmos seu trabalho pra próxima estação. Trabalho. Palavra que define em vários sentidos o SPFW.

Observações:
* A trilha sonora de Come Together da Ghetz foi minha preferida – apesar do desfile ter sido grande demais e a música ter se repetido demais. Alguém sabe onde consigo baixar essa versão?
* Próximo post vou falar sobre as coleções, sem tentar ficar no mais do mesmo.
* Espero que alguém tenha paciência pra ler tudo isso.

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